Beatriz Stucchi fala sobre o Autismo e nos leva a refletir com delicadeza sobre o que nos faz seres únicos.
Fico sempre intrigada com datas
marcadas! Pensei sobre o fato: Dia do Autismo.
Talvez muitos tenham essa
ideia bem clara, ou seja, qual a importância dessa formalização?
Remeti-me a varias outras
datas assim marcadas no calendário: Dia da Mentira, Dia do Ano Novo, Dia de
Santo Antonio, São Judas Tadeu, Dia dos
Namorados,Dia das Crianças e uma mais recente Dia dos Avôs!
Serão apenas datas
comerciais, ou religiosas, sem nenhum proveito mais profundo na vida afetiva de
cada um de nós?
Hoje penso que elas têm
sua função! Ou várias funções!
Podemos falar do tema que
elas nos propõem. No caso em questão: O Dia do Autismo.
Escolhi a palavra “falar”,
porque ela é diferente de pensar! Pensamos em muitas coisas, algumas
partilhamos, outras quase queremos esconder de nós mesmos, quanto mais poder
falar delas, falar com alguém.
Mas quando falamos, vamos tendo outra dimensão
do nosso próprio pensamento. Ele pode se modificar, abruptamente ou devagarinho!
Mas sempre amplia nossa “cabeça” e nosso “coração”!
Não sou uma especialista
na questão do Autismo, mas estou conectada de diferentes formas com essa
questão intrigante! E como temos dificuldades em abordar o autismo, quer como
pais, como professores, médicos, terapeutas...
Entre tantos textos
publicados esses dias, graças ao Dia do Autismo, um deles trouxe uma frase alvissareira:
“Quando se tem filhos
deficientes, é preciso suportar ouvir muita bobagem” Jean Luis Fournier.
Bobagens que machucam...,
bobagens de quem quer ajudar..., como saber?
Essa frase me chamou
atenção, pois é com os pais e todos os “substitutos” dos mesmos que estamos
falando.
O que essas crianças têm? Vocês só dizem o que elas não têm! –
Indagação valiosa de Teresa Campello.
O que se passa com algumas
de nossas crianças que podem ser assim classificadas?
O próprio Krammer, quem
denominou esse quadro, nos fala sobre as “fascinantes particularidades” das
crianças que cuidou.
Elas têm um modo de “estar
no mundo” singular, estabelecendo contatos à sua maneira.
Podemos pensar mais nas
diferenças, não por apontar deficiências, mas por trazer à memória, a árdua
tarefa de nos tornarmos “humanos” – no sentido nobre que esse termo ainda possa
ter... E o enorme esforço que cada um de nós faz para se “alfabetizar” para a
vida, tal como a concebemos hoje. Precisamos saber que todos nós precisamos de ajuda
para nos “civilizarmos”, ou seja, para aprendermos a viver juntos, o que
devemos respeitar, o que não podemos fazer, enfim, as regras do jogo. Alguns de
nós temos mais facilidade, outros nem tanto...
Há diferenças genéticas em
todos nós, mas estão comprovando componentes genéticos na chamada Síndrome de
Autismo. Há estudos que nos auxilia,
como Marie Christine Laznick, que já pôs em uso critérios de diagnostico
precoce, com muitos caminhos de intervenção.
Ponto de polêmicos debates
atuais, em termos individuais e de políticas de saúde publica, aparece nos
meios de comunicação, atualmente.
Todos somos corresponsáveis
por cada um de nós, e vivemos juntos! Como saber o que fazer?
De toda forma preciso é
estar disposto a enfrentar o novo, e aceitar ficar com as perguntas sem querer
ter a resposta rápida e exata. Saber discernir o que são “bobagens “ que
escutamos, levar em consideração o que sentimos e pensamos, e não sucumbir com o que nos dizem : amigos,
autoridades, inimigos, livros, propagandas...
Considero que é preciso
coragem para encarar as diferenças, ainda mais nos dias de hoje. Como fazer para lidar com o diferente de nós?
Lidando primeiro com cada
um de nós. Como cada um de nós aceita suas próprias diferenças?
Sofrer é inevitável, sofremos
no mais intimo de nosso ser. “Cada um
sabe a dor e a alegria de ser quem se é.” Letra de Caetano Veloso. Que também
nos diz: “De perto ninguém é normal”.
Há muitas maneiras de
falar do sofrimento, mas serão sempre limitadas para conter o que se vive na
convivência com essas crianças que nos interrogam, surpreendem e fascinam
Mas essas crianças consideradas
autistas, que relutam bravamente a
entrar no nosso” jogo de cultura” nos intrigam,
nos desafiam, nos questionam. Tiram-nos
de nossas “falsas” certezas, nos fazem rever todas as crenças e nos estimulam a
encontrar caminhos novos...
Convocam-nos a abrir caminhos,
o que não é tarefa fácil, mas não podemos fechar caminhos...
Não podemos deixar de
falar, de trocar nossas experiências, torná-las publicas para haver
cumplicidade e transformação. Quanto mais convivermos com nossas crianças autistas,
mais compreenderemos delas e de nós mesmos.
Pelo que brevemente
comentei, voltando ao inicio da conversa para dizer:
Que importante é o Dia do
Autismo!
Por conta dessa data
voltei ao Livro :Autismo- Autores: Ana Elizabeth Cavalcante e Paulina S. Rocha-
Ed.:Casa do Psicólogo-2007.-Coleção de Flavio Ferraz.
Para os que estão
interessados em depoimentos sobre o tema Autismo, é uma boa conversa, não muito
longa e bastante séria.
E para nos juntarmos aos
desafios, lembrei o que o poeta já disse:
Caminhante, não há
caminho, se faz caminho ao andar!
Beatriz Helena Peres Stucchi - Membro Associado da SBPSP - Docente do
Departamento de Psicopedagogia do Instituto Sedes Sapientiae .